No histórico `memórias, sonhos e
reflexões`, Jung (1965) conta da tremenda luta em sua vida que envolveu
fenomenologia psicológica e parapsicológica muito elaborada. Em sua narrativa
ele reporta falar com `espíritos` comunicar-se com entidades imaginárias, conta
de seus sonhos e visões com a sua casa sendo assombrada. Estes eventos
representavam símbolos mais do que sintomas, símbolos do inconsciente que
refletiam o despertar da Psique. Como ele lotou por integrar seu mundo interior
com o mundo exterior, ele e sua família começaram a sentirem-se `assombrados`.
Sua filha contou que por duas
vezes, à noite, seu cobertor foi arrancado e seu filho teve um sonho muito
tenso que continha diversos símbolos que Jung havia estado experienciado em
seus próprios sonhos e fantasias.
O sino da porta soando foi ouvido
por toda a família e Jung viu-o mover-se, mas ninguém foi visto fora, a porta.
Ele escreve `a casa toda estava
cheia, como se houvesse uma multidão presente, abarrotada de espíritos`. Foi
nessa época que ele editou seu trabalho `Septem, Sermones and Mortuos`, sob
pseudônimo (Jung, 1965)
Mas escritores contemporâneos,
tais como Jule Eisenbud (1970) e E. Mintz (1983), também relataram a ocorrência
de psi na psicanálise e na psicoterapia, proporcionando valioso material
terapêutico.
Trabalhar com Tina Resch (Stewart,
Roll e Baumann, 1988) revelou-me uma visão da fenomenologia parapsicológica que
era totalmente natural e sensível. Nosso fechamento psicológico e os resultados
de PK pareciam obviamente ligados e eu observei que a fenomenologia psíquica
tornou-se uma extensão natural da psique. Neste caso, a hipnose foi usada para
estabelecer rápido e decisivo `rapport`, bem como para trazer a consciência o
comportamento PK. O sucesso deste procedimento com ela levou-me a especular se casos
de distúrbios parapsicológicos, ao menos, eram personificação de elementos
psíquicos inconscientes e deveriam ser tratados através do inconsciente, com
métodos tais como hipnose e mentalização orientada.
Nesta época, participei como
sujeito, para os estudantes aprenderem sobre a mediunidade de Patrícia Hayes:
Minha experiência envolveu meu falecido cunhado, cuja morte súbita e acidental
deixara-me deveras traumatizada.
Os resultados da sessão psi
foram, para mim, profundamente benéficos pela minha compreensão e aceitação de
sua morte.
Além disso, sob um ponto de vista
profissional, eu reconheci essa abordagem como sendo muito similar às técnicas
de gestalterapia, particularmente a técnica da `cadeira vazia`.
Na orientação à famílias confusas
por experiências de assombração e possessão, Willian Roll e eu combinamos o
estilo de sessões com gestalterapia e técnicas de hipnose Ericksonianas, numa
forma consistentemente efetiva.
O sucesso deste procedimento, eu
sinto, resiste a compreensão da qualidade de espírito psicodinâmico.
No ensaio de Jung, `A
Fenomenologia do Espírito nos Contos de Fadas`, ele explica a experiência do
espírito como `um complexo funcional que, originalmente, em nível primitivo,
era tido como invisível, como uma presença de ar`. A mentalidade primitiva acha
bastante natural personificar a presença invisível como um fantasma ou demônio.
As almas ou espíritos dos mortos são idênticos à atividade psíquica da vida:
eles meramente continuam.
A visão que a psique e o espírito
está implícita nisso, quando, de alguma forma, algo psíquico acontece no
indivíduo que ele sente como pertencente a si próprio, que esse algo é o seu
espírito. Mas, se algo acontece que lhe pareça estranho, então é o espírito de
outro alguém e pode estar ocasionando uma possessão.
O espírito no primeiro caso,
corresponde a atitude subjetiva, no último caso corresponde a opinião pública,
ao espírito do tempo ou a disposição original, ainda não humana, antropoide,
que nós chamamos de INCONSCIENTE. (Jung, 1973)
À luz da explicação de Jung, uma
abordagem que ilumina a personificada possessão traria reconhecimento e
subsequente integração ao elemento possuído.
Eu gostaria de citar um caso com
o qual tive o mais longo contínuo contato:
- A cliente, uma mulher na casa
dos trinta anos, obesa, e, na época, sob tratamento psiquiátrico para
depressão, ligou à P.R.F. pedindo ajuda para o seu problema. Por seis meses,
sofreu atormentada por uma estranha entidade que a beliscava, puxava seu
cabelo, caia sobre ela, acariciava-a, passava sobre ela e ao seu redor, e,
algumas vezes, movia coisas na casa, durante a noite.
Às vezes, ela ouvia `vozes
adolescentes masculinas`, e sentia haver mais do que uma simples presença. Ela
estava aterrorizada a ponto de não conseguir dormir, o que estava afetando a
sua capacidade laborativa. Ela estava sentindo-se mais e mais alienada
socialmente e não tinha mais contatos sociais, exceto com sua amante. A
entidade estava começando a ir com ela a toda parte, mesmo no trabalho onde
seus alunos e ela tinham testemunhado um objeto na sala mover-se
paranormalmente (a paciente é uma professora de crianças com disfunções
emocionais e comportamentais).
Eu comecei falando com ela ao
telefone, uma ou duas vezes por semana e pedindo-lhe para tentar comunicar-se
com a entidade, simplesmente conversar com ela. Fez isto relutantemente, a
princípio, por algumas semanas até que estivesse amigável bastante para lhe dar
um nome – BIGFOOT (pé grande), devido ao seu tamanho. Isto diminuiu bastante o
seu medo, mas ela ainda estava atormentada por sua presença e queria se livrar
dele. Seu comportamento mais ofensivo
foi a proibição de contatos sexuais. Ela se dedicara apenas a relações homossexuais
nos últimos 8 anos, logo, um toque masculino era ainda mais desgastante.
Após cerca de vinte sessões ao
telefone, ela pediu para vir a Carolina do Norte para participar de um programa
intensivo de sessões psicoterápicas, na intenção de livrá-la da entidade e
fazê-la metabolizar positivamente a experiência.
Tipicamente, como parte do
processo de orientação, dois orientadores conduziram o que é chamada de sessão
psi com o cliente e alguém ligado ao cliente. Pelo estilo da sessão se pede aos
participantes para fecharem os olhos, relaxarem e tornarem-se abertos a ver e
relatar qualquer imagem, impressão ou sentimento. A personalidade intrusa e,
então, convidada a juntar-se ao grupo. Isto corre através da imagem reportada
pelo grupo. Então um dos membros começa a falar espontaneamente com a entidade.
Quando isto acontece, o membro falante do grupo está num estado mais profundo
de hipnose do que os outros membros. Comportamentos resultantes e comunicação
são interpretados como conteúdo do Inconsciente do cliente e do grupo que
proporciona a informação simbólica e factual psíquica que dia respeito ao
cliente.
Foi na primeira sessão psi com
essa cliente que um evento psíquico dramático ocorreu no início da integração
do processo: quatro pessoas – a cliente, sua amante. Bill Roll e eu
participamos dessa sessão que tinha começado muito lentamente.
Por trinta minutos, todos nós
ficamos sentados recebendo pouquíssimas impressões psíquicas, além de algum
material telepático proveniente de detalhes da vida cotidiana. (um estudante
particular na sua classe e na sua casa). Depois de tentar comunicação com o
bigfoot, sem respostas, eu estava para terminar a sessão, quando comecei a
sentir um grande peso sobre todo o meu corpo, acima da cintura. Senti que
estava paralisada no lugar por um peso em cima de mim. Abri os olhos e não vi
nada fora do comum em volta dos meus braços e meu corpo, mas quando tentei,
ainda não podia me mexer. Fiquei meio apavorada e pedi a cliente para me
ajudar. Já que eu não podia me mover, não poderia ajuda-la mais – e já era a
única a quem o bigfoot responderia, ela poderia fazer o favor de arrancá-lo de
mim. Em segundos, senti uma iluminação e depois, perda de peso e a cliente
relatou uma experiência simultânea de arrancar o bigfoot de mim. Nesse momento,
ela experienciou, pela primeira vez, o poder de controlar a entidade.
Curiosamente, a entidade
recusou-se a deixa-la, mas obviamente, entraria em acordo com ela.
Outras sessões utilizando
mentalização orientada e práticas de visualização foram providenciadas para
familiarizar a cliente com o mundo interior do qual bigfoot emergiu.
Ao voltar para casa, ela
continuou em contato, por telefone. Imediatamente após a visita, contou que
bigfoot tinha `encolhido`, e, agora, referia-se a ele como Bill Jr. Poucas
semanas após, ela começou a encontrar pessoas que praticavam meditação e que
entendiam sua situação. Quanto mais ocupada ela ficava, menos Bill Jr a rodeava.
Como parte de sua prática espiritual, desenvolveu uma nova visão de seu corpo,
o que animou-a a perder 50 libras, até então. Tornou-se mais interessada nos
homens como amantes e começou a marcar suas sessões de terapia com seu analista
homem. Numa carta, escreveu: `algumas vezes eu me sinto tão bem que custa a
crer que houve um tempo que eu queria morrer`.
Assim, a entidade espiritual
transformou-se em prática espiritual. Os símbolos e formas que o distúrbio
físico dessa cliente tomou expressavam seu estado psíquico: pesada, impotente,
vitimada (especialmente por homens) e sexualmente frustrada. O confronto e a
comunicação com seu espírito conturbado quebrou o auto reconhecimento, produto
da consciência.
Jung conduziu um trabalho que
`poderia qualquer passo verdadeiro do meu experimento resultar o mesmo conteúdo
psíquico que é o cerne da área da psicose e é encontrado no insano`.
Jung resume sua experiência
nestas palavras: `a experiência tem que ser encarada pelo que foi ou pelo que
parece ter sido`. Sem dúvida estava ligada ao estado emocional que era o meu na
época, e que era favorável a fenomenologia parapsicológica. Era uma constelação
inconsciente cuja atmosfera peculiar eu reconheci como o sinal de um
arquétipo`. `Isto está no ar`.
O intelecto, certamente gostaria
de reclamar para si algum conhecimento científico e físido do caso e, de
preferência, escrever a coisa toda como uma violação de regras. Mas que mundo
lúgubre seria se as regras não fossem violadas alguma vezes.
Este é o território, a mesma
lâmina na navalha que, sinto, é anterior anos na busca da compreensão mais
completa do mundo psíquico. A intensidade do desafio depende, provavelmente, de
um grande acordo sobre o quanto nós estejamos querendo experienciar
pessoalmente e conscientemente ou `trazer a luz` o nosso mundo interior e
exterior.
Referência bibliográfica:
Eisenbud, J (1970) Psi in
Psychoanalysis, New York, Grane e Stratton
Jung, C.G. (1965) Memories, Dream
and Reflection, New York, Vintage _______(1973) Archetypes: Mother, Rebirth,
Spirit, Princenton University press.
Mintz, E (1983) The Psychic
Tread, New York, Human Sciences Press
Stewart, J, Roll, W.G. and
Baumann, S (1988) Hypnotic Suuuggggestiooonnn and RSPK – research in Parapsychology – 1987,
Scarecrow Press